“O termo fobia deriva do étimo grego phobos, pavor. Na verdade, na antiga Grécia, para afastar o medo nos combates, os gregos divinizaram a figura de Fobos e os guerreiros o honravam antes partir para a guerra. Conceitualmente, uma fobia alude ao pavor irracional que um sujeito demonstra perante um objeto, um ser vivo ou alguma situação, os quais, por si mesmos, não apresentam nenhum perigo real. Assim, acompanhando dezenas de tipos de medos, existe uma grande diversidade terminológica, com os nomes de agorafobia (do grego agora, espaço aberto, praça, medo de espaços abertos), claustrofobia (medo de espaços fechados, ou seja, de claustros), hidrofobia (medo da água), acrofobia (medo de alturas, ou seja, de acros, em grego extremidade, ponta), etc.” (ZIBERMANN, 2008, pg.151, 152)
Depois este termo se transformou em um prefixo latino para os diferentes tipos de medo. O medo é fundamental para a sobrevivência, é uma reação numa situação de perigo (real ou imaginário), a patologia do medo é denominada como “fobia” que Dalgalarrondo define como:
“Medos determinados psicopatologicamente, desproporcionais e imcompatíveis com as possibilidades de perigo real oferecidas pelos desencadeantes, chamados de objetos ou situações fobígenas. Assim, o indivíduo tem um medo terrível e desproporcional de entrar em elevador, de gatos ou de contao com pessoas desconhecidas.” (DALGALARRONDO, 2008, p.171)
Observa-se que há uma diferença entre medo e fobia. O medo é uma reposta emocional do real ou imaginário, enquanto a fobia é uma ansiedade muito forte que afeta a qualidade de vida da pessoa. Freud em Inibições, sintomas e ansiedade, traz uma explicação para fobia com o caso de uma criança chamada Hans. Ele explica que a criança tinha medo de cavalos, dizia que tinha medo de sair de casa porque o cavalo lhe iria morder. (Freud, 1926a/1996, p.104). Freud interpreta que este cavalo que a criança cita é o pai. Se Hans (a criança) estava apaixonado pela mãe, mostrava-se com medo do pai, não há como afirmar que a criança tinha uma neurose ou fobia. Sua reação emocional teria sido inteiramente compreensível. O que a transformou em uma neurose foi a substituição do pai por um cavalo. É esse deslocamento, que revela a caracterização denominada de sintoma, fazendo com que se constitua um mecanismo alternativo que permite o conflito devido à existência simultânea de amor e ódio a ser solucionado sem o auxílio da formação reativa (Freud, 1926a/1996, pg. 105).
Esse historial, publicado em 1909, apresenta três aspectos interessantes:1. O fato de se tratar do primeiro tratamento de fundamentação psicanalítica realizada com uma criança. 2. Freud funcionou como supervisor, tendo em vista que o menino foi tratado por seu próprio pai, orientado por Freud; 3. A partir de uma esmiuçada análise da fobia de Hans por cavalos, Freud conseguiu demonstrar sua postulação da existência de uma angústia de castração e de que ela estava em ligação direta com um conflitivo complexo de Édipo. Igualmente, Freud comprovou a existência de teorias existentes na mente das crianças com as quais elas tentam decifrar o mistério do nascimento. Também conseguiu evidenciar como na criança as fontes de excitação são múltiplas e variadas, o que o levou a afirmar que, normalmente, “a criança é um perverso-polimorfo”.” (ZIBERMANN, 2008, pg.191)
Assim, pode-se afirmar que o medo não é apenas uma necessidade para sobrevivência, também é uma peça na formação da personalidade. As relações com o mundo externo darão traços a sua psique, moldando o “eu”, fazendo parte os medos que apenas em níveis inaceitáveis pela sociedade se torna uma fobia.
O indivíduo fóbico ao se deparar com os sintomas de sua fobia suas reações corporais são alteradas, o hipotálamo reage, desencadeando diversos comportamentos somáticos, provocando reações alteradas como: aceleração dos movimentos do coração ou diminuição; alteração dos movimentos respiratórios aceleração ou diminuição; contração ou dilatação dos vasos sanguíneos; sudorese excessiva; constipação ou diarreia, aumento ou diminuição da frequência das micções. Diante do perigo resultará em uma tempestade de movimentos desatinados, característicos do pânico. (DELUMEAU, 1989, p.23)
A CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) as fobias estão na classe de transtornos neuróticos, estresse e somatoformes, grupo F40 – F48. Podem-se citar alguns como:
Agorafobia (F40.0) – Medo de sair de casa, de entrar em lojas, multidões e lugares públicos ou de viajar sozinho em ônibus, trens e aviões.
Fobias sociais (F40.1) – medo de expor-se a outras pessoas em grupos, levando a evitação de situações sociais.
Fobias especificas (F40.2) – medo de aproximar-se de determinados animais ou situações como por exemplo: medo de altura, baratas, trovão, escuridão, visão de sangue, exposição às doenças especificas.
Transtorno de pânico (F41.0) – ataques recorrentes de ansiedade grave (pânico), os quais não estão restritos a qualquer situação ou conjunto de circunstâncias em particular e que são, portanto, imprevisíveis.
O medo é um sentimento comum a todo indivíduo, é uma forma de sofrimento e angústia. Apresenta-se com significações singulares, algumas fobias são consideradas simples como medo de elevador, medo de fantasma, medo de barata; e outras mais específicas como agorafobia, fobia social, crises de pânico, entre outras.
O indivíduo fóbico tem a necessidade de iniciar um processo de terapia e análise para se curar do medo para retornar a sua saúde física e mental, porque a fobia compromete a capacidade de autonomia do indivíduo que se encontra neste estado.
O medo e a fobia na teoria de Freud acontecem na fase fálica, que compreende entre a idade de três a cinco ano, período de desenvolvimento do Complexo de Édipo neste período são a introjeção de valores, respeito e moral.
Nele, tanto para meninos quanto para meninas, o objeto de prazer é a mãe, que passa a ter seu amor disputado entre o filho (a) e o pai. O pai representa a figura real, capaz de castrar para demonstrar seu poder, e o filho temendo esta castração, cede espaço ao sentimento de admiração pela mãe, deixando de lado o amor e o desejo.
REFERÊNCIAS:
CLASSIFICAÇÃO DE TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DA CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organiz. Mund. da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artmed, 1993.
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente: 1300-1800. 3ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
FREUD, Sigmund. Inibições, sintomas e ansiedade (1926a). In: SALOMÃO, Jayme. (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 20, p. 81-167. Edição Standard Brasileira.
ZIMERMAN, David. Vocabulário contemporâneo de psicanálise [recurso eletrônico] / David Zimerman. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre, RS: Artmed, 2008.